segunda-feira, maio 12, 2008

PESQUISA SOBRE TROVADORISMO I E II




















Pesquisar sobre a produção literária do Trovadorismo I e do Trovadorismo II é muito interessante, na medida em que ficamos conhecendo como nossos antepassados viveram e como se expressavam.
Dizem que os portugueses não são nada românticos, mas não é isso que mostram as cantigas de amor de D. Dinis (um dos maiores trovadores dessa época).
Nas cantigas de amor o eu-lírico é um homem apaixonado que se encontra na condição de vassalo diante da mulher amada: linda, pura, casta. Tal mulher quase sempre o despreza ou ainda não percebeu seu amor, por isso o eu-lírico sofre.
Atualmente, ainda encontramos traços dessas cantigas em letras de músicas, como exemplo podemos citar a letra da música Queixa de Caetano Veloso (Ver site http://chico-buarque.musicas.mus.br/letras/44767/). Navegando pela Internet também podemos encontrar o homem pós-moderno escrevendo para sua amada todos os seus sentimentos a moda das cantigas. É o que acontece com JSaraiva no site Escrita Criativa http://www.escritacriativa.com/modules/news/article.php?storyid=14677 , que faz um cantiga para sua Adriane.
ESTAMOS CURIOSOS PARA SABER SUA OPINIÃO:
E você o que já fez por amor? Qual sua opinião sobre a música de Caetano e a cantiga de JSaraiva? Será que se escrevessemos mais, fossemos mais sensíveis e românticos o mundo seria melhor e relações contubardas e trágicas como as do casal Nardoni seriam evitadas?

4 comentários:

Anônimo disse...

eu fugi de casa mcom o meu namorado e depois de um ano tivemos um filho.
então eu voltei prVGHQa CASAC NG

Anônimo disse...

Por sorte eu não fiz algo por amor.
estava indo para escola e encontrei com o garoto que eu gostava. Ele me chamou para irmos nadar num rio que ficava muito longe, mas eu tinha duas provas naquele dia. Chateada com isso não fui. No dia seguinte fiquei sabendo que ele tinha levado outra garota e eles haviam "ficado", só que pegaram eles no flagra, a menina levou uma surra dos pais e ele também. Me safei graças as provas.
Moral : Estudar é o melhor caminho para sair de uma ilusão amorosa. Eu aprendi. :)

Anônimo disse...

Essa é a pesquisa do trovadorismo que você pediu pra gente fazer e te mostrar na aula mas acabou em nada. Ta meio grande pra postar aqui mas você disse pra postar então ai vai ...
Momento histórico do Trovadorismo

Os historiadores costumam limitar o Trovadorismo entre os anos de 1189 (ou 1198?) e 1385. Mais importante que essas datas convencionais é saber que o Trovadorismo corresponde à primeira fase da história portuguesa ao período da formação de Portugal como reino independente. É o período literário que reúne basicamente os poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da Idade Média. É contemporâneo às lutas pela independência e ao surgimento do Estado português e à dinastia de Borgonha, subdivide-se em três categorias: cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer. Chegaram até nós três coletâneas de poesias: o Cancioneiro da Vaticana, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Ajuda, todos eles contendo composições que vão do século XII ao século XIV. Os trovadores mais famosos foram o rei Afonso X de Castela e o rei D. Dinis de Portugal.

Primeira fase da história de Portugal - séculos XII a XIV

1095 O rei Afonso VI, de Leão e Castela, concede o condado Portucalense a seu genro Henrique de Borgonha
1109-1385 Dinastia de Borgonha. Declínio do Feudalismo
1139 D. Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, após vencer os mouros em batalha declara a independência de Castela (tratado de Zamora).
1143 Reconhecimento da independência de Castela (tratado de Zamora )
1385 Fim da Dinastia de Borgonha. Revolução de Avis; D. João I é aclamado rei de Portugal; início da dinastia de Avis.



Trovadorismo
É o conjunto das manifestações literárias contemporâneas à primeira dinastia - a dinastia de Borgonha (1109-1385) Alguns aspectos da história da Península Ibérica são importantes para entendermos certas características das manifestações literárias desse período:
• O feudalismo, já em declínio, terá reflexos até mesmo na linguagem da poesia amorosa, como veremos adiante. As cortes dos reis e dos grandes senhores feudais são os centros de produção cultural e literária.
• A reconquista do território, dominado pelos árabes desde o século VIII, faz prolongar, na nobreza ibérica, o espírito guerreiro e aventureiro das Cruzadas. Daí o gosto tardio em Portugal pelas novelas de cavalaria.
• Por último, o profundo espírito religioso medieval e teocêntrico refletirá tanto nas já citadas novelas de cavalaria como na poesia de temática religiosa (Cantigas de Santa Maria, de D. Afonso X) e nas hagiografias (vidas de santos) e obras de devoção.

Cronologia do Trovadorismo


Início: 1189 (ou 1198?) Provável data da Cantiga da Ribeirinha, de Pai Soares de Taveirós. Supõe-se que esta seja a mais antiga das composições conservadas nos cancioneiros. Outras cantigas disputam essa primazia.
Término: 1385 Fim da dinastia de Borgonha

Cantiga da Ribeirinha

No mundo non me sei parelha
mentre me for como me vai,
ca ja moiro por vós e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia.
Mao dia me levantei
que vos entom nom vi fea!
E, mia senhor, des aquelha
me foi a mi mui mal di’ai!
E vós, filha de Dom Paai
Moniz, e bem vos semelha
d’aver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve nem ei
valia d’ua correa.

CANTIGAS TROVADORESCAS


Cantiga de Amigo:

São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares. Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (amigo = namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação Suserano x Vassalo, ela é uma mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher, pela ida de seu amado à guerra.
Exemplo (de D. Dinis)

"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
(...)


Cantiga de Maldizer


Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.
Exemplo de cantiga
De Pero Gargia Burgalés
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lh'ela non quis [o] benfazer
fez-s'el en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...

Cantiga de Amor

O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível. Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).
Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada. Existem dois tipos de cantigas de amor: as de refrão e as de mestria, que não tem refrão.
Exemplo de lírica galego-portuguesa (de Bernal de Bonaval):
"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-mh-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-mh-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-mh-a Deus,
se non dade-mh-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ay Deus, fazede-mh-a veer,
se non dade-mh-a morte.
Ay Deus, que mh-a fezestes mais ca min amar,
mostrade-mh-a hu possa con ela falar,
se non dade-mh-a morte."

Cantiga de Escárnio
Na cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As cantigas de escárnio (ou "de escarnho", na grafia da época) definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambigüidades, trocadilhos e jogos semânticos, num processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz.
Exemplo:
De João Garcia de Guilharde
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...


PRINCIPAIS AUTORES E SUAS CANTIGAS

Dom Dinis
Exemplo:
Quer'eu em maneira de proençal
fazer agora un cantar d'amor,
e querrei muit'i loar mia senhor
a que prez nen fremusura non fal,
nen bondade; e mais vos direi en:
tanto a fez Deus comprida de ben
que mais que todas las do mundo val.

Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedor
de todo ben e de mui gran valor,
e con todo est'é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bon sen,
e des i non lhi fez pouco de ben,
quando non quis que lh'outra foss'igual.

Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad'e loor
e falar mui ben, e riir melhor
que outra molher; des i é leal
muit', e por esto non sei oj'eu quen
possa compridamente no seu ben
falar, ca non á, tra-lo seu ben, al.

Análise: Esta cantiga de amor de Dom Dinis é chamada de “cantiga de amor do tipo de mestria”, pois não possuem refrão.

João Garcia de Guilharde
Exemplo:
Amigos, non poss’eu negar
a gran coita que d’amor ei,
ca me vejo sandeu andar,
e con sandece o direi:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.

Pero quen quer x’entenderá
aquestes olhos quaes son,
e d’est’alguén se queixará,
mais eu... ja quer moira, quer non:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.

Pero non devi'a perder
ome que ja o sen non á
de con sandece ren dizer,
e con sandece digu’eu ja:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.

Análise: Esta é uma cantiga de amigo no qual sempre no final de cada estrofe há a repetição nos dois últimos versos dando um grande destaque na mensagem que ele está querendo transmitir com estes dois versos.

Martim Codax
Exemplo:
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai, Deus!, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus!, se verrá cedo!

Análise: Esta é uma cantiga de amigo na qual o autor queria expressar a perda de um amigo ou coisa parecida e sempre no final de cada dois versos ele meio que conversava com Deus através deste verso: “...E ai, Deus!, se verrá cedo! ...”.





O HUMANISMO NA LITERATURA PORTUGUESA


O Humanismo português vai desde a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de Miranda da Itália, em 1527, quando começou a introduzir em Portugal a nova estética clássica.

Torre do Tombo: arquivo do Reino, onde se guardavam os documentos oficiais. A Torre do Tombo foi destruída por um terremoto em 1755, mas o arquivo conservou sempre o mesmo nome.

O termo Humanismo literário é usado comumente para designar o estudo das letras humanas em oposição à Teologia. Na Idade Média, predomina a concepção teocêntrica, em que tudo gira em torno dos valores religiosos. A partir do Humanismo desenvolve-se uma nova concepção de vida: os eruditos defendem a reforma total do homem; acentuam-se o valor do homem na terra, tudo o que possa tornar conhecido o ser humano; preocupam-se com o desenvolvimento da personalidade humana, das suas faculdades criadoras; têm como objetivo atualizar, dinamizar e dar uma nova vida aos estudos tradicionais; empenham-se em fazer a reforma educacional.
Nesse período da história literária, são cada vez mais lidos e apreciados os autores gregos e latinos. A estética medieval – rude e grosseira – é substituída pela grego-latina – harmoniosa e culta. O latim passa a ser a língua de muitos humanistas, que se deixam tomar de grande entusiasmo pelo saber, pelas artes clássicas.
A produção literária portuguesa desse período pode ser subdividida em:
_ Prosa: a) Crônicas de Fernão Lopes, b) Prosa doutrinária e c) Novela de cavalaria
_ Poesia: Poesia palaciana
_ Teatro: Obra de Gil Vicente


Prosa

Conhecido como o “Pai da Historiografia portuguesa”, Fernão Lopes foi encarregado por D. Duarte de guardar os arquivos da Torre do Tombo, onde se achavam os principais documentos sobre Portugal. Incumbido de escrever relatos sobre os acontecimentos de diversos períodos históricos (as chamadas crônicas), Fernão Lopes destacou-se como um prosador dono de um estilo rico e movimentado. Não se limitando a tecer elogios a reis, como a outros cronistas da época; fez descrições detalhadas não só do ambiente da corte, mas também das aldeias, das festas populares e, principalmente, do papel do povo nas guerras e rebeliões.
São de sua autoria:
_ A Crônica de El-Rei D. Pedro I: narrativa dos principais acontecimentos de seu reinado;
_ A Crônica de El-Rei D. Fernando: narrativa dos fatos que ocorreram desde o casamento de D. Fernando com Leonor Telles até o início da Revolução de Avis;
_ A Crônica de El-Rei D. João I: narrativa dos acontecimentos relativos a seu reinado (1385-1411), quando é assinado a paz com Castela.
Fernão Lopes é reconhecido como historiador de inegável méritos e verdadeiro narrador-artista preocupado não apenas com a verdade do conteúdo de suas narrativas, mas também com a beleza da forma. É reconhecido também pela sua capacidade de observar e analisar personagens históricas.
Fernão Lopes analisou com objetividade e justiça os documentos históricos: foi cauteloso em determinar a verdade histórica, ao confrontar textos e versões sobre um mesmo acontecimento.

Prosa Doutrinária

Estas obras destinavam-se ao aprendizado de determinadas artes, muito em moda na época:
_ Livro da montaria;
_ Livro da falcoaria;
_ Leal conselheiro (um verdadeiro guia sobre sentimentos humanos).

Novela de Cavalaria

Como já vimos no Trovadorismo, a novela de cavalaria relatava os feitos históricos de um corajoso cavaleiro, em alguma nobre missão. Neste período, é escrita a novela Amadis de Gaula, que conta a história do cavaleiro Amadis, apaixonado por Oriana, por que se lança em inúmeras aventuras.


Autores:

Fernão Lopes:
“CRÓNICA DE D. PEDRO I

Como foi trelladada Dona Ines pera o moesteiro Dalcobaça, e da morte delRei Dom Pedro
Por que semelhante amor, qual elRei Dom Pedro ouve a Dona Enes, raramente he achado em alguuma pessoa, porem disserom os antiigos quc nenhuum he tam verdadeiramente achado, como aquel cuja morte nom tira da memoria o gramde espaço do tempo. E se alguum disser que muitos forom ja que tanto e mais que el amarom, assi como Adriana e Dido, e outras que nom nomeamos, segumdo se lee em suas epistolas, respomdesse que nom fallamos em amores compostos, os quaaes alguuns autores abastados de eloquemcia, e floreçentes em bem ditar, hordenarom segumdo lhes prougue, dizemdo em nome de taaes pessoas, razoões que numca nenhuuma dellas cuidou; mas fallamos daquelles amores que se contam e leem nas estorias, que seu fumdamento teem sobre verdade. Este verdadeiro amor ouve elRei Dom Pedro a Dona Enes como se della namorou, seemdo casado e aimda Iffamte, de guisa que pero dela no começo perdesse vista e falla, seemdo alomgado, como ouvistes, que he o prinçipal aazo de se perder o amor, numca çessava de lhe emviar recados, como em seu logar teemdes ouvido. Quanto depois trabalhou polla aver, e o que fez por sua morte, e quaaes justiças naquelles que em ella forom culpados, himdo contra seu juramento, bem he testimunho do que nos dizemos...”


Gomes Eanes de Zurara:
“Crónica da Tomada de Ceuta
ou Terceira Parte da Crónica de D. João I
CAPÍTULO 18
Como os embaxadores tornaram e da reposta que trouveram.
Senhor, disse o priol, de cousa que visse nem achasse, nom vos ei de dar reposta atee que me façaes trazer quatro cousas: duas carregas de area e uu novelo de fita e meio alqueire de favas e üa escudela». «Cuidaes, disse elRei, que nom teemos aqui o capitam com suas profecias». E entom começou de se rir, e disse que leixasse o jogo, e que lhe desse recado do que lhe preguntava. «Senhor, disse o priol, eu nom tenho custume de joguetar com vossa mercee, mas ainda vos tomo a dizer que sem as ditas cousas vos nom darei nenhüa reposta». Ja elRei começava de tomar algüu queixume pensando que os embaxadores nom arrecadarom seu feito per a guisa que lho ele mandara.
«Veede, disse ele contra seus filhos, que bem concertadas duas repostas pera homeês de tal autoridade, estou lhe preguntando per as cousas a que os mandei, e uü me fala em estrolomia, outro me fala em semelhança de feitiços. Quem havia de cuidar que taes dous homeës houvessem de trazer semelhante recado.» Os ifantes conhecendo quem era o priol, nom podiam entender que ele tornasse de sua viagem sem trazer certo recado. Porem lhe disserom que se arrecadara como dele confiavam, que desse a reposta a elRei seu padre. O priol estava rindo porque via que elRei nom conhecia sua teençom, porem disse que ainda que ele quisesse responder que nom saberia sem lhe trazerem as ditas cousas, as quaes lhe forom trazidas per a guisa que as ele requeria. E tanto que as teve dentro em üa camara meteo-se dentro soo, e com aquela area começou a devisar sua embaxada per esta guisa. Tomou aquela escudela e fez logo o monte da Almina com toda a cidade assi como jaz com suas alturas e os vales e fundos delas, e desi a Aljazira com a serra de Xemeira assi como jaz em sua parte, e onde havia de fazer mostra de muro cercava com aquela fita, e onde havia d'assinar casas poinha aquelas favas, em tal guisa que lhe nom ficou nada por devisar. E depois que todo teve assi acabado, chamou elRei e seus filhos e disse-lhe: «Agora podees veer a semelhança dos meus feitiços, ora me podees preguntar por todo o que vossa mercee for. E eu poder-vos ei responder com espiriencia ante vossos olhos». Esguardou elRei mui bem toda aquela mostra como estava, e desi o priol começou-lhe a devisar todo, mostrando-lhe logo toda a longura do muro como estava da parte do mar, e quanto era acompanhado de torres, e de que altura era a maior parte delas, e depois lhe mostrou o castelo com todo seu assentamento, e quaes eram os lugares per onde a cidade podia receber combate, com todalas outras cousas que a elRei prouve de saber. E como quer o filosofo diga que o conhecimento da cousa é mais forte conhecida per si meesma que per sua semelhança, nom reprovando seu dito que seria escarnho pera mim, certamente nom faleceo nenhüa cousa daquelas que eram na cidade pera veer e saber, que todas i nom fossem mui bem declaradas e conhecidas segundo compria, da qual cousa elRei foi mui contente louvando muito a boa discriçom do priol, e muito lhe pareceo aquela cidade aazada pera o que ele desejava. E depois dalgüu pequeno rezoado que sobre aquele feito houve, mandou elRei que tirassem a area e aquelas cousas que ali estavam, e por entom nom se falou mais em cousa que aaquele caso perteecesse.”

Rui Pina:

”CRÓNICA DO SENHOR D. DUARTE
Capítulo II
Como o Ifante Dom Duarte foi alevantudo por Rei e como foi aconselhado, que naquela hora se nom alevantasse
Ao outro dia despois do falecimento d'ElRey que eram quinze dias d'Agosto, o Ifante Dom Duarte despois d'haver com os Ifantes seus irmãos conselho e deliberaçam sobre a maneira que ao diante havia de ter como Principe mui Catolico e prudente falou ante menhãa com seu Confessor aquelas culpas de que sentio sua conscientia gravada, e tomou o Santo Sacramento, para com a limpeza d'alma que devia, tomar o Cetro Real que o jaa esperava; e estando-se pera isso vestindo de ricos pano se Reaes, como para tal dignidade e ao auto seguinte convinha, chegou a ele Meestre Guedelha, Judeu, seu Fisico, e grande Astrologo, e lhe disse: «Parece-me Senhor que vos aparelhaes pera logo entrardes na Real Socessam que vos per dereito perteence. Peço-vos, Por merce, que este auto dilatees atee passar o meo dia, e nisso prazendo a Deos farees vosso proveito, e será bem de vosso Regno, porque estas horas em que fazees fundamento seer novamente obedecido mostram seer mui perigosas, e de mui triste constelaçam, ca Jupiter esta retrogado, e o Sol em decaimento com outros sinaes que no Ceo parecem assaz infelices»...”
Garcia Resende:
“PRÓLOGO DO CANCIONEIRO GERAL

Muito alto e muito poderoso Príncipe Nosso Senhor
Porque a natural condiçam dos Portugueses é nunca escreverem cousa que façam, endo dinas de grande memória, muitos e mui grandes feitos de guerra; paz e vertudes, de ciência, manhas e gentilezas sam esquecidos. Que, se os escritores se quisessem acupar a verdadeiramente escrever nos feitos de Roma, Tróia e todas outras antigas crónicas e estórias, nam achariam mores façanhas nem mais notáveis feitos que os que dos nossos naturais se podiam escrever, assi dos tempos passados como d'agora: tantos reinos e senhorios, cidades, vilas, castelos, per mar e per terra tantas mil légoas, per força d'armas tomados, sendo tanta a multidão de gente dos contrairos e tam pouca a dos nossos, sostidos com tantos trabalhos, guerras, fomes e cercos, tão longe d'esperança de ser socorridos, senhoreando per força d'armas tanta parte de África, tendo tantas cidades, vilas e fortalezas tomadas e continuamente em guerra sem nunca cessar, e assi Guiné, sendo muitos reis grandes e grandes senhores seus vassalos e trebutários e muita parte de Etiópia, Arábia, Pérsia e Índias, onde tantos reis mouros e gentios e grandes senhores sam per força feitos seus súditos e servidores, pagando-lhe grandes páreas e tributos e muitos destes pelejando por nós, debaixo da bandeira de Cristos com os nossos capitães, contra os seus naturais, conquistando quatro mil légoas por mar que nenhúas armadas do Soldam nem outro nenhum gram rei nem senhor nom ousam navegar com medo das nossas, perdendo seus tratos, rendas e vidas, tornando tantos reinos e senhorios com inumerável gente à fé de Jesu Cristo, recebendo água do santo bautismo, e outras notáveis cousas que se não podem em pouco escrever...”
Gil Vicente:
“Auto da barca do inferno
O primeiro intrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.

DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.

À barca, à barca, hu-u!
Asinha, que se quer ir!
Oh, que tempo de partir,”

Anônimo disse...

Trabalho do trovadorismo feito na sala de lia, não foi corrigido.

Momento histórico do Trovadorismo

Os historiadores costumam limitar o Trovadorismo entre os anos de 1189 (ou 1198?) e 1385. Mais importante que essas datas convencionais é saber que o Trovadorismo corresponde à primeira fase da história portuguesa ao período da formação de Portugal como reino independente. É o período literário que reúne basicamente os poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da Idade Média. É contemporâneo às lutas pela independência e ao surgimento do Estado português e à dinastia de Borgonha, subdivide-se em três categorias: cantigas de amigo, cantigas de amor e cantigas de escárnio e maldizer. Chegaram até nós três coletâneas de poesias: o Cancioneiro da Vaticana, o Cancioneiro da Biblioteca Nacional e o Cancioneiro da Ajuda, todos eles contendo composições que vão do século XII ao século XIV. Os trovadores mais famosos foram o rei Afonso X de Castela e o rei D. Dinis de Portugal.

Primeira fase da história de Portugal - séculos XII a XIV

1095 O rei Afonso VI, de Leão e Castela, concede o condado Portucalense a seu genro Henrique de Borgonha
1109-1385 Dinastia de Borgonha. Declínio do Feudalismo
1139 D. Afonso Henriques, filho e sucessor de Henrique de Borgonha, após vencer os mouros em batalha declara a independência de Castela (tratado de Zamora).
1143 Reconhecimento da independência de Castela (tratado de Zamora )
1385 Fim da Dinastia de Borgonha. Revolução de Avis; D. João I é aclamado rei de Portugal; início da dinastia de Avis.



Trovadorismo
É o conjunto das manifestações literárias contemporâneas à primeira dinastia - a dinastia de Borgonha (1109-1385) Alguns aspectos da história da Península Ibérica são importantes para entendermos certas características das manifestações literárias desse período:
• O feudalismo, já em declínio, terá reflexos até mesmo na linguagem da poesia amorosa, como veremos adiante. As cortes dos reis e dos grandes senhores feudais são os centros de produção cultural e literária.
• A reconquista do território, dominado pelos árabes desde o século VIII, faz prolongar, na nobreza ibérica, o espírito guerreiro e aventureiro das Cruzadas. Daí o gosto tardio em Portugal pelas novelas de cavalaria.
• Por último, o profundo espírito religioso medieval e teocêntrico refletirá tanto nas já citadas novelas de cavalaria como na poesia de temática religiosa (Cantigas de Santa Maria, de D. Afonso X) e nas hagiografias (vidas de santos) e obras de devoção.

Cronologia do Trovadorismo


Início: 1189 (ou 1198?) Provável data da Cantiga da Ribeirinha, de Pai Soares de Taveirós. Supõe-se que esta seja a mais antiga das composições conservadas nos cancioneiros. Outras cantigas disputam essa primazia.
Término: 1385 Fim da dinastia de Borgonha

Cantiga da Ribeirinha

No mundo non me sei parelha
mentre me for como me vai,
ca ja moiro por vós e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia.
Mao dia me levantei
que vos entom nom vi fea!
E, mia senhor, des aquelha
me foi a mi mui mal di’ai!
E vós, filha de Dom Paai
Moniz, e bem vos semelha
d’aver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve nem ei
valia d’ua correa.

CANTIGAS TROVADORESCAS


Cantiga de Amigo:

São cantigas de origem popular, com marcas evidentes da literatura oral (reiterações, paralelismo, refrão, estribilho), recursos esses próprios dos textos para serem cantados e que propiciam facilidade na memorização. Esses recursos são utilizados, ainda hoje, nas canções populares. Este tipo de cantiga, que não surgiu em Provença como as outras, teve suas origens na Península Ibérica. Nela, o eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (amigo = namorado), muitas vezes em ambiente natural, e muitas vezes também em diálogo com sua mãe ou suas amigas. A figura feminina que as cantigas de amigo desenham é, pois, a da jovem que se inicia no universo do amor, por vezes lamentando a ausência do amado, por vezes cantando a sua alegria pelo próximo encontro. Outra diferença da cantiga de amor, é que nela não há a relação Suserano x Vassalo, ela é uma mulher do povo. Muitas vezes tal cantiga também revelava a tristeza da mulher, pela ida de seu amado à guerra.
Exemplo (de D. Dinis)

"Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado!
ai Deus, e u é?"
(...)


Cantiga de Maldizer


Ao contrário da cantiga de escárnio, a cantiga de maldizer traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada pode ou não ser revelado.
Exemplo de cantiga
De Pero Gargia Burgalés
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lh'ela non quis [o] benfazer
fez-s'el en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...

Cantiga de Amor

O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível. Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).
Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada. Existem dois tipos de cantigas de amor: as de refrão e as de mestria, que não tem refrão.
Exemplo de lírica galego-portuguesa (de Bernal de Bonaval):
"A dona que eu am'e tenho por Senhor
amostrade-mh-a Deus, se vos en prazer for,
se non dade-mh-a morte.
A que tenh'eu por lume d'estes olhos meus
e porque choran sempr(e) amostrade-mh-a Deus,
se non dade-mh-a morte.
Essa que Vós fezestes melhor parecer
de quantas sei, ay Deus, fazede-mh-a veer,
se non dade-mh-a morte.
Ay Deus, que mh-a fezestes mais ca min amar,
mostrade-mh-a hu possa con ela falar,
se non dade-mh-a morte."

Cantiga de Escárnio
Na cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. Essa sátira era indireta, cheia de duplos sentidos. As cantigas de escárnio (ou "de escarnho", na grafia da época) definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambigüidades, trocadilhos e jogos semânticos, num processo que os trovadores chamavam "equívoco". O cômico que caracteriza essas cantigas é predominantemente verbal, dependente, portanto, do emprego de recursos retóricos. A cantiga de escárnio exigindo unicamente a alusão indireta e velada, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz.
Exemplo:
De João Garcia de Guilharde
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...


PRINCIPAIS AUTORES E SUAS CANTIGAS

Dom Dinis
Exemplo:
Quer'eu em maneira de proençal
fazer agora un cantar d'amor,
e querrei muit'i loar mia senhor
a que prez nen fremusura non fal,
nen bondade; e mais vos direi en:
tanto a fez Deus comprida de ben
que mais que todas las do mundo val.

Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedor
de todo ben e de mui gran valor,
e con todo est'é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bon sen,
e des i non lhi fez pouco de ben,
quando non quis que lh'outra foss'igual.

Ca en mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad'e loor
e falar mui ben, e riir melhor
que outra molher; des i é leal
muit', e por esto non sei oj'eu quen
possa compridamente no seu ben
falar, ca non á, tra-lo seu ben, al.

Análise: Esta cantiga de amor de Dom Dinis é chamada de “cantiga de amor do tipo de mestria”, pois não possuem refrão.

João Garcia de Guilharde
Exemplo:
Amigos, non poss’eu negar
a gran coita que d’amor ei,
ca me vejo sandeu andar,
e con sandece o direi:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.

Pero quen quer x’entenderá
aquestes olhos quaes son,
e d’est’alguén se queixará,
mais eu... ja quer moira, quer non:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.

Pero non devi'a perder
ome que ja o sen non á
de con sandece ren dizer,
e con sandece digu’eu ja:
Os olhos verdes que eu vi
me fazen ora andar assi.

Análise: Esta é uma cantiga de amigo no qual sempre no final de cada estrofe há a repetição nos dois últimos versos dando um grande destaque na mensagem que ele está querendo transmitir com estes dois versos.

Martim Codax
Exemplo:
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai, Deus!, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus!, se verrá cedo!

Análise: Esta é uma cantiga de amigo na qual o autor queria expressar a perda de um amigo ou coisa parecida e sempre no final de cada dois versos ele meio que conversava com Deus através deste verso: “...E ai, Deus!, se verrá cedo! ...”.





O HUMANISMO NA LITERATURA PORTUGUESA


O Humanismo português vai desde a nomeação de Fernão Lopes para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo, em 1434, até o retorno de Sá de Miranda da Itália, em 1527, quando começou a introduzir em Portugal a nova estética clássica.

Torre do Tombo: arquivo do Reino, onde se guardavam os documentos oficiais. A Torre do Tombo foi destruída por um terremoto em 1755, mas o arquivo conservou sempre o mesmo nome.

O termo Humanismo literário é usado comumente para designar o estudo das letras humanas em oposição à Teologia. Na Idade Média, predomina a concepção teocêntrica, em que tudo gira em torno dos valores religiosos. A partir do Humanismo desenvolve-se uma nova concepção de vida: os eruditos defendem a reforma total do homem; acentuam-se o valor do homem na terra, tudo o que possa tornar conhecido o ser humano; preocupam-se com o desenvolvimento da personalidade humana, das suas faculdades criadoras; têm como objetivo atualizar, dinamizar e dar uma nova vida aos estudos tradicionais; empenham-se em fazer a reforma educacional.
Nesse período da história literária, são cada vez mais lidos e apreciados os autores gregos e latinos. A estética medieval – rude e grosseira – é substituída pela grego-latina – harmoniosa e culta. O latim passa a ser a língua de muitos humanistas, que se deixam tomar de grande entusiasmo pelo saber, pelas artes clássicas.
A produção literária portuguesa desse período pode ser subdividida em:
_ Prosa: a) Crônicas de Fernão Lopes, b) Prosa doutrinária e c) Novela de cavalaria
_ Poesia: Poesia palaciana
_ Teatro: Obra de Gil Vicente


Prosa

Conhecido como o “Pai da Historiografia portuguesa”, Fernão Lopes foi encarregado por D. Duarte de guardar os arquivos da Torre do Tombo, onde se achavam os principais documentos sobre Portugal. Incumbido de escrever relatos sobre os acontecimentos de diversos períodos históricos (as chamadas crônicas), Fernão Lopes destacou-se como um prosador dono de um estilo rico e movimentado. Não se limitando a tecer elogios a reis, como a outros cronistas da época; fez descrições detalhadas não só do ambiente da corte, mas também das aldeias, das festas populares e, principalmente, do papel do povo nas guerras e rebeliões.
São de sua autoria:
_ A Crônica de El-Rei D. Pedro I: narrativa dos principais acontecimentos de seu reinado;
_ A Crônica de El-Rei D. Fernando: narrativa dos fatos que ocorreram desde o casamento de D. Fernando com Leonor Telles até o início da Revolução de Avis;
_ A Crônica de El-Rei D. João I: narrativa dos acontecimentos relativos a seu reinado (1385-1411), quando é assinado a paz com Castela.
Fernão Lopes é reconhecido como historiador de inegável méritos e verdadeiro narrador-artista preocupado não apenas com a verdade do conteúdo de suas narrativas, mas também com a beleza da forma. É reconhecido também pela sua capacidade de observar e analisar personagens históricas.
Fernão Lopes analisou com objetividade e justiça os documentos históricos: foi cauteloso em determinar a verdade histórica, ao confrontar textos e versões sobre um mesmo acontecimento.

Prosa Doutrinária

Estas obras destinavam-se ao aprendizado de determinadas artes, muito em moda na época:
_ Livro da montaria;
_ Livro da falcoaria;
_ Leal conselheiro (um verdadeiro guia sobre sentimentos humanos).

Novela de Cavalaria

Como já vimos no Trovadorismo, a novela de cavalaria relatava os feitos históricos de um corajoso cavaleiro, em alguma nobre missão. Neste período, é escrita a novela Amadis de Gaula, que conta a história do cavaleiro Amadis, apaixonado por Oriana, por que se lança em inúmeras aventuras.


Autores:

Fernão Lopes:
“CRÓNICA DE D. PEDRO I

Como foi trelladada Dona Ines pera o moesteiro Dalcobaça, e da morte delRei Dom Pedro
Por que semelhante amor, qual elRei Dom Pedro ouve a Dona Enes, raramente he achado em alguuma pessoa, porem disserom os antiigos quc nenhuum he tam verdadeiramente achado, como aquel cuja morte nom tira da memoria o gramde espaço do tempo. E se alguum disser que muitos forom ja que tanto e mais que el amarom, assi como Adriana e Dido, e outras que nom nomeamos, segumdo se lee em suas epistolas, respomdesse que nom fallamos em amores compostos, os quaaes alguuns autores abastados de eloquemcia, e floreçentes em bem ditar, hordenarom segumdo lhes prougue, dizemdo em nome de taaes pessoas, razoões que numca nenhuuma dellas cuidou; mas fallamos daquelles amores que se contam e leem nas estorias, que seu fumdamento teem sobre verdade. Este verdadeiro amor ouve elRei Dom Pedro a Dona Enes como se della namorou, seemdo casado e aimda Iffamte, de guisa que pero dela no começo perdesse vista e falla, seemdo alomgado, como ouvistes, que he o prinçipal aazo de se perder o amor, numca çessava de lhe emviar recados, como em seu logar teemdes ouvido. Quanto depois trabalhou polla aver, e o que fez por sua morte, e quaaes justiças naquelles que em ella forom culpados, himdo contra seu juramento, bem he testimunho do que nos dizemos...”


Gomes Eanes de Zurara:
“Crónica da Tomada de Ceuta
ou Terceira Parte da Crónica de D. João I
CAPÍTULO 18
Como os embaxadores tornaram e da reposta que trouveram.
Senhor, disse o priol, de cousa que visse nem achasse, nom vos ei de dar reposta atee que me façaes trazer quatro cousas: duas carregas de area e uu novelo de fita e meio alqueire de favas e üa escudela». «Cuidaes, disse elRei, que nom teemos aqui o capitam com suas profecias». E entom começou de se rir, e disse que leixasse o jogo, e que lhe desse recado do que lhe preguntava. «Senhor, disse o priol, eu nom tenho custume de joguetar com vossa mercee, mas ainda vos tomo a dizer que sem as ditas cousas vos nom darei nenhüa reposta». Ja elRei começava de tomar algüu queixume pensando que os embaxadores nom arrecadarom seu feito per a guisa que lho ele mandara.
«Veede, disse ele contra seus filhos, que bem concertadas duas repostas pera homeês de tal autoridade, estou lhe preguntando per as cousas a que os mandei, e uü me fala em estrolomia, outro me fala em semelhança de feitiços. Quem havia de cuidar que taes dous homeës houvessem de trazer semelhante recado.» Os ifantes conhecendo quem era o priol, nom podiam entender que ele tornasse de sua viagem sem trazer certo recado. Porem lhe disserom que se arrecadara como dele confiavam, que desse a reposta a elRei seu padre. O priol estava rindo porque via que elRei nom conhecia sua teençom, porem disse que ainda que ele quisesse responder que nom saberia sem lhe trazerem as ditas cousas, as quaes lhe forom trazidas per a guisa que as ele requeria. E tanto que as teve dentro em üa camara meteo-se dentro soo, e com aquela area começou a devisar sua embaxada per esta guisa. Tomou aquela escudela e fez logo o monte da Almina com toda a cidade assi como jaz com suas alturas e os vales e fundos delas, e desi a Aljazira com a serra de Xemeira assi como jaz em sua parte, e onde havia de fazer mostra de muro cercava com aquela fita, e onde havia d'assinar casas poinha aquelas favas, em tal guisa que lhe nom ficou nada por devisar. E depois que todo teve assi acabado, chamou elRei e seus filhos e disse-lhe: «Agora podees veer a semelhança dos meus feitiços, ora me podees preguntar por todo o que vossa mercee for. E eu poder-vos ei responder com espiriencia ante vossos olhos». Esguardou elRei mui bem toda aquela mostra como estava, e desi o priol começou-lhe a devisar todo, mostrando-lhe logo toda a longura do muro como estava da parte do mar, e quanto era acompanhado de torres, e de que altura era a maior parte delas, e depois lhe mostrou o castelo com todo seu assentamento, e quaes eram os lugares per onde a cidade podia receber combate, com todalas outras cousas que a elRei prouve de saber. E como quer o filosofo diga que o conhecimento da cousa é mais forte conhecida per si meesma que per sua semelhança, nom reprovando seu dito que seria escarnho pera mim, certamente nom faleceo nenhüa cousa daquelas que eram na cidade pera veer e saber, que todas i nom fossem mui bem declaradas e conhecidas segundo compria, da qual cousa elRei foi mui contente louvando muito a boa discriçom do priol, e muito lhe pareceo aquela cidade aazada pera o que ele desejava. E depois dalgüu pequeno rezoado que sobre aquele feito houve, mandou elRei que tirassem a area e aquelas cousas que ali estavam, e por entom nom se falou mais em cousa que aaquele caso perteecesse.”

Rui Pina:

”CRÓNICA DO SENHOR D. DUARTE
Capítulo II
Como o Ifante Dom Duarte foi alevantudo por Rei e como foi aconselhado, que naquela hora se nom alevantasse
Ao outro dia despois do falecimento d'ElRey que eram quinze dias d'Agosto, o Ifante Dom Duarte despois d'haver com os Ifantes seus irmãos conselho e deliberaçam sobre a maneira que ao diante havia de ter como Principe mui Catolico e prudente falou ante menhãa com seu Confessor aquelas culpas de que sentio sua conscientia gravada, e tomou o Santo Sacramento, para com a limpeza d'alma que devia, tomar o Cetro Real que o jaa esperava; e estando-se pera isso vestindo de ricos pano se Reaes, como para tal dignidade e ao auto seguinte convinha, chegou a ele Meestre Guedelha, Judeu, seu Fisico, e grande Astrologo, e lhe disse: «Parece-me Senhor que vos aparelhaes pera logo entrardes na Real Socessam que vos per dereito perteence. Peço-vos, Por merce, que este auto dilatees atee passar o meo dia, e nisso prazendo a Deos farees vosso proveito, e será bem de vosso Regno, porque estas horas em que fazees fundamento seer novamente obedecido mostram seer mui perigosas, e de mui triste constelaçam, ca Jupiter esta retrogado, e o Sol em decaimento com outros sinaes que no Ceo parecem assaz infelices»...”
Garcia Resende:
“PRÓLOGO DO CANCIONEIRO GERAL

Muito alto e muito poderoso Príncipe Nosso Senhor
Porque a natural condiçam dos Portugueses é nunca escreverem cousa que façam, endo dinas de grande memória, muitos e mui grandes feitos de guerra; paz e vertudes, de ciência, manhas e gentilezas sam esquecidos. Que, se os escritores se quisessem acupar a verdadeiramente escrever nos feitos de Roma, Tróia e todas outras antigas crónicas e estórias, nam achariam mores façanhas nem mais notáveis feitos que os que dos nossos naturais se podiam escrever, assi dos tempos passados como d'agora: tantos reinos e senhorios, cidades, vilas, castelos, per mar e per terra tantas mil légoas, per força d'armas tomados, sendo tanta a multidão de gente dos contrairos e tam pouca a dos nossos, sostidos com tantos trabalhos, guerras, fomes e cercos, tão longe d'esperança de ser socorridos, senhoreando per força d'armas tanta parte de África, tendo tantas cidades, vilas e fortalezas tomadas e continuamente em guerra sem nunca cessar, e assi Guiné, sendo muitos reis grandes e grandes senhores seus vassalos e trebutários e muita parte de Etiópia, Arábia, Pérsia e Índias, onde tantos reis mouros e gentios e grandes senhores sam per força feitos seus súditos e servidores, pagando-lhe grandes páreas e tributos e muitos destes pelejando por nós, debaixo da bandeira de Cristos com os nossos capitães, contra os seus naturais, conquistando quatro mil légoas por mar que nenhúas armadas do Soldam nem outro nenhum gram rei nem senhor nom ousam navegar com medo das nossas, perdendo seus tratos, rendas e vidas, tornando tantos reinos e senhorios com inumerável gente à fé de Jesu Cristo, recebendo água do santo bautismo, e outras notáveis cousas que se não podem em pouco escrever...”
Gil Vicente:
“Auto da barca do inferno
O primeiro intrelocutor é um Fidalgo que chega com um Paje, que lhe leva um rabo mui comprido e üa cadeira de espaldas. E começa o Arrais do Inferno ante que o Fidalgo venha.

DIABO À barca, à barca, houlá!
que temos gentil maré!
- Ora venha o carro a ré!
COMPANHEIRO Feito, feito!
Bem está!
Vai tu muitieramá,
e atesa aquele palanco
e despeja aquele banco,
pera a gente que virá.

À barca, à barca, hu-u!
Asinha, que se quer ir!
Oh, que tempo de partir,”