terça-feira, março 20, 2007


FERNANDO PESSOA E A HETERONÍMIA

"Criei em mim várias personalidades. Crio personalidades constantemente. Cada sonho meu é imediatamente, logo ao aparecer sonhado, encarnado numa outra pessoa, que passa a sonhá-lo, e eu não.
(...)

Só uma grande intuição pode ser bússola nos descampados da alma; só com um sentido que usa da inteligência, mas se não assemelha a ela, embora nisto com ela se funda, se pode distinguir estas figuras de sonho na sua realidade de uma a outra."

Fernando Pessoa


O desejo de simular o "eu" e o "outro" existentes dentro de nós é antigo. Parece que o ser humano sempre esteve em busca de encontrar a si mesmo, pois quase nunca se reconhece. Atualmente, a hetorônimia vivida por Fernando Pessoa encontrou outras técnicas mais sofisticadas de despersonalização e de simulação dos vários "eus" existentes em cada um.
As novas tecnologias parecem proporcionar um espaço propício para isso, a criação de jogos de simulação na internet como o Second Life, o Orkut, Chats, MSN, os Blogs Pessoais são as vitrines virtuais dos "eus" simulados por cada indivíduo de nossa sociedade. Seria isto um novo tipo de heteronímia criado, sem a necessidade do uso do imaginário como fazia Fernando Pessoa?

8 comentários:

GpreToS disse...

Bernardo Soares

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. (s.d.)


L. do D.

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie - nem sequer mental ou de sonho -, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros. Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand, fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até, de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento, num delírio passivo de coisa movida.

Como todos os grandes apaixonados, gosto da delícia da perda de mim, em que o gozo da entrega se sofre inteiramente. E, assim, muitas vezes, escrevo sem querer pensar, num devaneio externo, deixando que as palavras me façam festas, criança menina ao colo delas. São frases sem sentido, decorrendo mórbidas, numa fluidez de água sentida, esquecer-se de ribeiro em que as ondas se misturam e indefinem, tornando-se sempre outras, sucedendo a si mesmas. Assim as ideias, as imagens, trémulas de expressão, passam por mim em cortejos sonoros de sedas esbatidas, onde um luar de ideia bruxuleia, malhado e confuso.

Não choro por nada que a vida traga ou leve. Há porém páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me, como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez numa selecta o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão. «Fabricou Salomão um palácio...» E fui lendo, até ao fim, trémulo, confuso: depois rompi em lágrimas, felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará imitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais - tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E, disse, chorei: hoje, relembrando, ainda choro. Não é - não - a saudade da infância de que não tenho saudades: é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica.

Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico.Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.

Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.

GpreToS disse...

Evandro Barbosa Carreira Nº11
Layla Stassun Antonio Nº19
Karen Menegheti de Moraes Nº18

Heteronímia é o estudo dos heterónimos, isto é, estudo de autores fictícios (ou pseudoautores) que possuem personalidade. Ao contrário de pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade. O criador do heterónimo é chamado de "ortónimo".

O maior e mais famoso exemplo da produção de heterónimos é do poeta português Fernando Pessoa, criador de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, além de outros de menor importância e do semi-heterónimo Bernardo Soares.

Fernando Pessoa não só criou seus heterônimos como estabeleceu para cada um deles, uma biografia própria. É através destas biografias que podemos verificar quão diferentes eles se apresentam.

Fernando Pessoa
(O Ortônimo)

"Há sem dúvida quem ame o infinito."

Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu às 3 horas da tarde do dia 13 de junho de 1888, no 4º andar de um prédio do Largo de São Carlos em Lisboa. Faleceu no dia 30 de novembro de 1935 no hospital de São Luís em Lisboa, acometido de perturbações hepáticas.

isabelle disse...

Considerado, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX, Fernando Pessoa teve valor comparado ao de Camões.
Viveu a maior parte de sua juventude na África do Sul,teve na língua inglesa um grande destaque em sua vida traduzindo, escrevendo, trabalhando, estudando e até pensando no idioma.
Atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde desdobrou-se em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos.Por falar em heterônimos*
Fernando Pessoa detacou-se por possuir varias identidades, como Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro.
Álvaro de Campos foi o único a manifestar fases poéticas. Ricardo Reis simboliza a herança clássica na literatura ocidental. Alberto Caeiro também é conhecido como o poeta-filósofo.



* Heterônimo é o estudo dos heterónimos, isto é, estudo de autores fictícios (ou pseudoautores) que possuem personalidade. Ao contrário de pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade. O criador do heterónimo é chamado de "ortónimo".

isabelle disse...

Isabelle Mensato nº16
* Heterônimo é o estudo dos heterónimos, isto é, estudo de autores fictícios (ou pseudoautores) que possuem personalidade. Ao contrário de pseudónimos, os heterónimos constituem uma personalidade. O criador do heterónimo é chamado de "ortónimo".
Considerado, ao lado de Pablo Neruda, o mais representativo poeta do século XX, Fernando Pessoa teve valor comparado ao de Camões.
Viveu a maior parte de sua juventude na África do Sul,teve na língua inglesa um grande destaque em sua vida traduzindo, escrevendo, trabalhando, estudando e até pensando no idioma.
Atuou no jornalismo, na publicidade, no comércio e, principalmente, na literatura, onde desdobrou-se em várias outras personalidades conhecidas como heterônimos*. Fernando Pessoa detacou-se por possuir varias identidades, como Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro.
Álvaro de Campos foi o único a manifestar fases poéticas. Ricardo Reis simboliza a herança clássica na literatura ocidental. Alberto Caeiro também é conhecido como o poeta-filósofo.

Ana Bárbara e Leandro disse...

Ana Bárbara Bisinella de Faria nº 04
Leandro Vieira Martins nº 20
Turma 83B

Criada por Fernando Pessoa, a moda dos heterônimos, que em sua época chocou toda a sociedade parece tomar conta da cena ainda hoje. Se na época de Pessoa sentia-se a necessidade de se fazer uma profunda experimentação do eu, buscando qual seria realmente a essência do ser humano, isso não é o que ocorre atualmente. As pessoas estão usando máscaras, criando e encarando personagens.
Hoje em dia, consideravelmente não pelos mesmos motivos, a heteronímia é fato corriqueiro em nossa vida. Jogos virtuais e sites de relacionamento interpessoais são capazes de simular a vida dos sonhos de qualquer um. Até aí tudo parece ser muito normal. O problema porém começa quando não se consegue distinguir entre a simulação e a realidade e passa-se a acreditar nesta “vida inventada” esquecendo-se dos problemas e fatos ao redor.
Atualmente, a precisão da simulação do eu vai muito além da experimentação da essência humana. A necessidade da fuga inconseqüente, de seguir os padrões ditados pela sociedade e de nunca saber qual é, na realidade a sua verdadeira personalidade – uma vez que o ser humano fica preso a um molde que se encaixe sem exceção às engrenagens do mundo - são as maiores causadoras dessa experimentação, muitas vezes desmedida e levada da virtualidade à realidade, dos outros lados desconhecidos do ser humano.
Destarte, cabe a nós, peças da engrenagem do mundo, analisar se não estamos nos deixando levar pela influência dessa diversificação do eu para justificar atitudes de fuga e falta de ação diante do mundo e assim, usando dessa experimentação, inventado e vivendo “personagens heterônimos” com os quais sequer nos identificamos.

Ana Bárbara e Leandro disse...

Nomes:
Fernanda Zampieri Canaver nº13
Francielle Bortoloti nº15

Atualmente as pessoas têm criado um novo tipo de heteronímia, que surgiu com Fernando Pessoa, querendo encontrar seu verdadeiro eu, porém não fugindo da realidade. Nos jogos, como por exemplo, no Second Life(O Second Life é um simulador da vida real ou em um mundo virtual totalmente 3D, onde os limites de interação com o game vão além da sua criatividade. Nele, além de interagir com jogadores de todo o mundo em tempo real, é possível também criar seus próprios objetos, negócios e até mesmo personalizar completamente seu avatar, tudo em modelagem 3D), os usuários vivem uma “segunda vida” da maneira que querem viver.
Em Chats, blogs e Orkut há pessoas que simulam novas aparências, um outro caráter diferente do que são, algumas se passam por outras, copiam personalidades artísticas.No Big Brother Brasil, onde também se encontra a heteronímia, os jogadores negam seus verdadeiros valores, mudam suas características, em busca de um milhão de reais.
Nós mesmos agimos de maneiras diferentes conforme cada situação. Às vezes, podemos desconhecer as atitudes que tomamos. Conhecendo a cada dia as pessoas que “já conhecemos”, descobrindo diversas qualidades, que podem ser boas ou ruins.

Ana Bárbara e Leandro disse...

OBSERVAÇÃO:
Nós,Fernanda Zampieri Canaver e Francielle Bortoloti, somos da Turma 83B e postamos com esse login pois não conseguimos acessar o nosso.

Michelle disse...

Michelle Nastasi nº20 Turma: 83A

Fernando Pessoa possuía ligações com o ocultismo e o misticismo, salientando-se a Maçonaria e a Rosa-Cruz, o seu poema misterioso mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo nomeado "No Túmulo de Christian Rosenkreutz", e também tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo.
A obra de Pessoa passou por diferentes fases, mas envolve basicamente a procura de certo patriotismo perdido, através de uma atitude retrógrada reinventada. A poesia resultante tem certo ar mítico, heróico (quase épico, mas não no significado original do termo), e por vezes trágico. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo de uma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que tem uma explicação aceitável para ter criado os famosos heterônimos - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterônimo Bernardo Soares.
A principal obra "Pessoa ele - mesmo" é Mensagem, uma coletânea de poemas sobre os grandes personagens históricos portugueses. O livro foi, também, o único a ser publicado enquanto foi vivo.
É considerado, só por si, como simbolista e modernista pela indefinição e insatisfação, e pela inovação praticada por entre diversos hábitos de formulação do discurso poético .

Atualmente a tecnologia contribui em diversas formas para a criação de heterônimos, um mundo virtual e real ao mesmo tempo, onde as pessoas podem ter tantas personalidades ou até mais que Fernando Pessoa. Há relatos de pessoas que chegaram a ficar doentes por ‘esquecerem’ de viver.
Uma coisa curiosa é que , mesmo sem a tecnologia, em situações diferentes, nos tornamos pessoas diferentes. Em um jantar formal, na escola com os outros estudantes, com as pessoas da nossa família, quando vamos em uma festa, enfim, em nenhum desses lugares agimos exatamente igual. Isso pode ocorrer por diversos fatores como : a sociedade, as tradições, os costumes, o país onde se está, a nossa visão de mundo, a nossa experiência de vida e a tecnologia como rádio, televisão.
Por isso que, como no tempo de Fernando Pessoa, a busca pelo verdadeiro eu e a troca desses tantos eu permanece nos dias de hoje e permaneceram durante muito tempo.

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